20 de abril de 2014

Rochaforte, o folar da D. Arminda e uma tradição que eu não quero perder - 1ª parte


A D. Arminda é hoje a única habitante da aldeia de Rochaforte a fazer os folares típicos da terra. A minha querida Lhi (Deolinda) deixou de herança a sua sabedoria na arte de fazer estes maravilhosos folares, que são tradição na Páscoa, aqui numa aldeia da Serra de Montejunto, onde a minha mãe nasceu.
A D. Arminda, ensinada pela Deolinda, e com um amor dedicado, faz hoje os folares para todas a encomendas, desta quadra e são muitas! Até de Lisboa chegam pedidos :-) É a única a fazê-los, desde que a Deolinda nos deixou. São sabedorias que desejo muito que não se percam.
Passei a manhã com a D. Arminda e com a sua neta, a Iara, sempre ao seu lado entretida com uma bolinha de massa, tentando aprender o segredo de tão delicioso folar.
A massa foi feita logo de manhã cedo, mas começou a ser preparada na véspera!
 

Ingredientes


2kg de massa para 6 folares

500g de açúcar branco
500g de açúcar amarelo
500gr de farinha com fermento
1 1/2kg de farinha sem fermento
Raspa de 3 limões
6 ovos inteiros
1 colher de chá de canela (pode pôr-se mais, a gosto)
1 colher de chá de bicarbonato
1 colher de chá de fermento royal
1 cálice de aguardente
1 colher de sopa de fermento de padeiro
1 colher de sobremesa de fermento de padeiro
Água
Na véspera

Num tachinho desfazer a colher de sobremesa de fermento de padeiro num pouco de água. Juntar os 500gr (mais ou menos) de farinha. Ir juntando água aos bocadinhos até fazer uma bola húmida. Cobrir com a tampa do tacho e deixar a levedar até ao dia seguinte.

Massa levedada. Fotografia tirada na Páscoa de 2012, ainda pelas mãos da Deolinda


Preparação
No dia seguinte e usando um alguidar de barro, juntar todos os secos: de um lado do alguidar os açúcares e os ovos, (os ovos devem ser juntos no açúcar para não granularem na farinha). Do outro lado a farinha, o fermento royal, as raspas de limão, a canela, e o bicarbonato de sódio. Amassar tudo depois.
Desfazer a colher de sopa de fermento de padeiro num pouco de água e adicionar aos secos, seguido da massa levedada do dia anterior. Ir amassando muito bem deitando água morna aos poucos. 
a aguardente é a última coisa a deitar.
O resultado final depende das mãos que amassam. É nessa arte que reside o segredo.
São sempre necessárias duas pessoas. Uma para amassar e outra para segurar o alguidar, pois é preciso muita força.
A massa deverá ficar a despegar do alguidar. Deve descansar cerca de 3 horas dentro do alguidar salpicada com farinha e coberta com panos.
Depois do descanso fazem-se bolas de massa, sempre passando primeiro as mãos por farinha. Vai-se cortando a mesma quantidade com uma faca. Colocar as bolas numa bancada enfarinhada.
Colocar um ovo previamente cozido em cada folar e enfeitar a gosto.
Pincelar com ovo batido. Este trabalho foi feito pela D. Maria Alice.
A D. Arminda tem umas formas de inox que usa para colocar os folares. Forra o fundo com uma folha de papel pardo e polvilha com farinha.
Vão a cozer num forno a lenha que é aceso quando estão feitos cerca de metade dos folares.
Esta parte coube ao dedicado marido da D.Arminda, o sr. Onorato. Que cada vez que entrava na casa do forno soltava ais de contentamento, dizendo: Estão tão bonitos :-)






 





 
No final tapam-se com mantas e deixam-se assim, abafadas, até se comerem ;-)
Talvez para o ano seja eu a fazê-los, agora que aprendi :-)

Segue uma 2º parte.
Beijinhos e uma Páscoa feliz para todos. 



8 comentários:

  1. Aah, que delícia. Mando uns para mim!

    Beijitos*

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  2. Que maravilhosa reportagem! Estas tradições não podem mesmo perder-se, estas mãos sábias têm de transmitir a terceiros toda a sua sabedoria!
    Os folares ficaram lindos, e deve ser um ritual maravilhoso fazê-los!
    Beijinhos

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  3. Fiquei encantada com a história deliciosa dessas senhoras sábias, que se dedicam de corpo a alma a estes doces tradicionais.
    Ficaram lindos os folares.

    Bjs.
    Paula

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  4. Que maravilha e em forno de lenha, uau.
    Bjs

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  5. Gostei muito desta tua reportagem, lindo lindo!
    Eu adoro estas tradições, que espero que nunca se percam :) lindos os folares.
    Um beijinho.

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  6. Que maravilha! Estas tradições comunitárias são uma delícia de ver (e comer) e é uma pena que se vão apagando com o tempo. Adorei o post, bela reportagem! Um beijinho

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    Respostas
    1. Susana, aquele lugar eram as delícias para a tua objectiva!!!
      É tudo tão bonito e verde.
      Beijinhos e obrigada
      Cláudia

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